A comunidade de Lobão da Beira,
freguesia do Concelho de Tondela, uniu-se para recuperar a Ermida da Nossa
Senhora do Crasto, património religioso da freguesia e cujo espaço envolvente
precisava de intervenção, sobretudo desde os incêndios de 2017. “A pandemia
como que adormeceu a prioridade de mantermos este espaço tão querido a todos os
habitantes, e agora, para mostrarmos também que a comunidade está viva e preza
o seu património, decidimos unir-nos e deitar mãos à obra”, refere Ana Duarte, coordenadora
da comissão das Festas da Nossa Senhora do Crasto.
Como resposta à necessidade de manter
aquele espaço cuidado e assumindo que a Ermida, apesar de ser propriedade da
Fábrica da Igreja Paroquial de Lobão da Beira, não é uma ilha no seio da
comunidade local e que, nesta, todos podem contribuir de diferentes formas para
a sua manutenção e valorização, tornando o património de culto num espaço de
bem-estar e de convívio das gentes locais, foi criada uma comissão organizadora
que lançou o repto aos habitantes locais.
Numa primeira fase a comunidade
paroquial envolveu-se num conjunto de atividades de angariação de fundos (ofertórios
das eucaristias, venda de frangos, entre outras), para proceder a uma intervenção
mais profunda de todo o espaço envolvente, nomeadamente de limpeza florestal, levada
a cabo pelos Sapadores Florestais de Parada de Gonta.
Posteriormente, um grupo de
voluntários associou-se a esta iniciativa, procurando embelezar todo o espaço
que tinha sido algo de intervenção. “Com o apoio de cerca de meia centena de
pessoas, iniciámos há várias semanas operações de limpeza voluntárias, as pessoas
responderam à chamada e de acordo com a sua disponibilidade e necessidades do momento
vão até à Ermida ajudar com tudo o que têm, mas sobretudo com muita boa vontade,
dedicação e amor à terra. E, assim, com muito empenho, algum sacrifício dos seus
tempos livres, mas com muita vontade, entusiasmo e boa disposição, os trabalhos
vão avançando, e o que era para serem algumas manhãs de trabalho, passaram a semanas
inteiras. É maravilhoso ver o poder da união das pessoas e as mudanças que essa
força pode operar”, adianta Ana Duarte.
O grupo de voluntários tem também
desenvolvido peditórios e vai organizar 4 dias de festa em Honra da Nossa Senhora
do Crasto, entre os dias 08 e 12 de setembro, com o objetivo de angariar verbas
para ajudar no projeto de arquitetura, que vai impulsionar a preservação e embelezamento
de todo o espaço.
A coordenadora do grupo decidiu
estimular esta iniciativa comunitária, como forma de mostrar também que a freguesia
está viva e que a pandemia só suspendeu as dinâmicas locais. “É preciso que
voltemos a envolver as pessoas e a dar-lhes causas e propósitos, para
reativarmos as nossas terras do interior”, defende Ana Duarte. Ainda antes das
Festas da Nossa Senhora do Crasto, a junta de freguesia e uma parceria inter-associações
coordenada pela associação local Cruz Maltina Lobanense, vão também organizar
uma caminhada na manhã de dia 04 de setembro, sobretudo orientada para os
habitantes locais, para que recordem a beleza natural da freguesia, mas ao mesmo
tempo, refere Ana Duarte, “para serem consciencializados dos espaços florestais
e naturais que estão ao abandono e que carecem de limpeza e manutenção. O
património natural também é de todos e não queremos reviver o pesadelo dos
incêndios de 2017, e por isso, todos somos responsáveis por cuidar do que é nosso
e da comunidade local, mas só podemos cuidar do que conhecemos. Daí considerarmos
poder ser uma boa ideia levarmos as pessoas numa caminhada exploratória, depois
de tanto tempo parados por causa da pandemia”.
Acrescenta que querem “continuar a
organizar atividades comunitárias, mas de forma colaborativa. Por isso temos mantido
proximidade com as Associações locais e a Fábrica da Igreja, para que sejam
elas os agentes de transformação e reativação das dinâmicas locais, voltando a
apresentar os seus programas de atividades, como de resto faziam antes da
pandemia”, remata Ana Duarte. Lobão da Beira é uma freguesia do município de
Tondela com pouco mais de mil habitantes. É a localidade onde nasceu Cândido de
Figueiredo, mestre da língua portuguesa.