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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Quantas mais mulheres precisam de morrer?


Em Portugal, entre 1 de janeiro e 15 de novembro deste ano foram assassinadas 30 mulheres, segundo dados do Observatório de Mulheres Assassinadas. Em 63% dos femicídios reportados havia violência prévia e em 40% havia ameaça de morte. Em 80% destes casos a violência era conhecida de outras pessoas.

 

Hoje, 25 de Novembro, o Núcleo Douro-Sul do Bloco de Esquerda assinala o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher com dor e pesar por estas trinta mulheres e por tantas outras que sofrem em silêncio: o assédio no autocarro, o colega de trabalho que levantou a voz, o marido controlador ou o ex-namorado ciumento.

 

Para nós, este ano é ainda mais duro. Uma destas trinta mulheres foi assassinada (e outra ficou ferida) bem perto de nós, aqui em Lamego. Na nossa comunidade, diante dos nossos olhos. Recordamos também que, há menos de um ano, outra mulher felizmente escapou ao mesmo destino. Não, não é só conservadorismo: é violência machista. Não, não é só algo que vemos na televisão: é algo que está a acontecer entre nós. Assobiamos para o lado?

 

Sabe-se que em 2014 foi criado em Lamego um Centro de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica e ministrado um Curso de Técnico de Apoio à Vítima a várixs psicólogxs e assistentes sociais. Segundo dados do município nesse mesmo ano foram atendidas 70 vítimas. Seis anos passaram e hoje em dia não sabemos se esse centro de apoio ainda existe. Uma coisa é certa: não existe qualquer divulgação junto da comunidade, não se voltaram a formar técnicxs e profissionais de saúde para este contexto específico e não existe trabalho visível na comunidade ou qualquer ação de sensibilização. A única iniciativa conhecida deste executivo relativamente a esta matéria foi, de facto, a criação de uma linha especializada de apoio à violência doméstica (que naturalmente saudamos) através da medida “Lamego Ajuda” no âmbito do Plano de Contingência para a Covid-19.

 

O Núcleo Douro-Sul do Bloco de Esquerda questionou o Município no final de Maio (há cerca de meio ano) sobre este gabinete e sobre o funcionamento da linha de apoio (e até da possibilidade de continuar a funcionar, ultrapassada a pandemia). Não tendo havido qualquer resposta, não foi possível, até ao dia de hoje obter qualquer esclarecimento sobre esta matéria.

 

Posto isto, em primeiro lugar lamentamos esta opacidade do município em relação a este gabinete de apoio. Entendemos que a ampla divulgação à comunidade e o inerente escrutínio público em torno do seu funcionamento, em termos meramente indicativos e estatísticos, é fundamental e não compromete os necessários anonimato, discrição e protecção assegurado às vítimas - pelo contrário, informa as pessoas sobre as opções que têm em caso de necessidade de recurso.

Depois, temos sérias dúvidas de que esse gabinete de apoio ainda exista ou sequer alguma vez tenha saído do papel. O trabalho que se exige nesta área é muito vasto e vai muito além das infra-estruturas físicas e da contratação de profissionais. Envolve articulação entre várias entidades sanitárias, policiais, judiciais, judiciárias, e desde logo um necessário trabalho de retaguarda nas escolas e associações a sensibilizar xs nossxs jovens para estas questões da violência de género, violência no namoro e outras contíguas.

 

Por fim, apelamos ao município que desperte finalmente para estas questões e sobretudo que para além dos planos, das intenções, dos programas, das medidas e as inaugurações, seja consequente. Esta matéria e estas mulheres assim o exigem. É também da nossa responsabilidade enquanto comunidade travar este flagelo hediondo.

A Câmara Municipal de Viseu é uma Causa perdida!

POR; Ana Carolina Gomes

 

A Câmara Municipal de Viseu, na forma do seu executivo atual, atingiu novos rankings, mas daqueles que vão ignorar pois não cumprem os critérios do marketing vangloriador atual.

 


Depois de ontem, dia 25 de novembro, se ter assinalado internacionalmente o Dia Pela Eliminação Da Violência Contra as Mulheres, em Viseu, através da construção de um memorial em homenagem às trinta mulheres assassinadas até ao momento em 2020 em Portugal, funcionários da autarquia removeram o mesmo esta manhã.

 

Tudo isto ocorre quando, vamos expor os factos: cumprindo o que a Lei manda, a Plataforma Já Marchavas, promotora da iniciativa, informou o Ex.mo Sr. Presidente Dr. Almeida Henriques da instalação do memorial, da manutenção do mesmo até dia 10 de dezembro, do objetivo do mesmo, da localização exata do mesmo e, num ato de boa fé, garantindo que em nada impediria a utilização habitual do espaço em que se insere (Rossio).

 

Tudo isto ocorre depois de, apesar de dois e-mails solicitando resposta sobre um pedido específico para realização da ação, cedendo um ponto de acesso a luz elétrica existente no local, a Câmara não ter aproveitado a oportunidade de responder, nem que fosse negando essa ajuda, ou, se a ação era assim tão incomodativa, tentar uma “negociação”. Há menos de dois meses, para um pedido semelhante, a resposta foi pronta para o negar, alegando o mesmo ter sido feito com pouca antecedência.

 

Tudo isto ocorre sem qualquer informação, comunicação ou aviso, por qualquer meio, à Plataforma ou às três pessoas que assinaram o aviso formal da ação, disponibilizando à autarquia a sua morada, e-mail e número de telemóvel.

 

Mas, acima de tudo, isto ocorre em total desrespeito pelas Mulheres, pelas Mulheres vítimas de violência, pelas trinta Mulheres que este ano já foram silenciadas e que foram homenageadas através do memorial, friamente, violentamente, removido pela autarquia viseense. Através deste ato, a Câmara de Viseu, adornada em fogo de artifício e luminárias natalícias, revela-se, apesar de toda a sua esplendorosa fachada, agressora, machista, superficial e autoritária.

 

A Praça da República, também conhecida como Rossio, não é da República, não é da cidadania, da Democracia, das causas ou do povo. A Praça da República, que ninguém se engane, é o salão de baile dos interesses e bem pareceres, com laivos ditatoriais e censórios, da estética e política opressora do executivo da Câmara Municipal de Viseu!